OPINIÃO: as razões de Miyazaki e Hirohiko Araki frente a monopolização da produção de artes pelas IAs
O maior problema da IA não está no roubo de informações dispersas publicamente ao uso de recortes, pois a solução para isso seria a creditação ao autor das obras originais usadas e a monetização da reprodução para o bolso dos artistas, o problema é maior, é o monopólio das artes através da falsificação. Hayao Miyazaki, artista do Studio Ghibli responsável pelos traços icônicos das obras do estúdio de animação, considerou a prática como "insulto à própria vida", e de fato possui razão, uma vez que tratam-se de obras feitas por ferramentas desprovidas de vida, quais não possuem רוּחַ (ruach), "vento", não possuem alma, são feitas de pedras, metais e areia, não do barro e da carne.
Hirohiko Araki, o mangaka autor de JoJo's Bizarre Adventures, alertou sobre isso, em entrevista, quando afirmou ter ficado surpreso com o nível da capacidade da IA em replicar os traços dele próprio. Araki foi na justiça e hoje qualquer IA é incapaz de replicar os traços dele sem que o pague. Disse o autor de JoJo's que entraremos em uma "era de fraudadores"[2], acertou.
Pode-se hoje replicar os traços do artista de forma a insignificar sua obra, pior que o roubo, é tornar comum o que deveria ser singular e único, é como vazar a fórmula secreta de um produto de sucesso, se alguém tem a sabedoria técnica para replicar esse tipo de informação na marra, ralando duro, parabéns, mas se todos possuem acesso ao produto gratuitamente logo o produto é insignificante, logo não possui valor pois há consigo uma horda de fraudadores, ora, por que gastar determinada quantia em uma obra original se há uma fraude produzida gratuita dando sopa?
Isso se difere, em muito, da defesa da prática de pirataria, que por vezes é legitima se feita como uma forma de agência num contexto contraeconômico beirando o agorismo, como propõem alguns anarquistas, a exemplo da obra "O Manifesto do Novo Libertário", do Konkin III, pois nela trata-se de uma prática de economia cinza e negra que ainda movimenta o mercado, seja por troca de dinheiro ou por troca de informações (mercado de scans, de jogos, filmes piratas, PDFs de livros e demais conteúdos de cunhos culturais e de entretenimento). Não há nada de benéfico ao mercado com o monopólio da produção das artes, e aliás, a monopolização, tal como a oligopolização, é o que há de mais antimercado, isso sem o ponto de vista contraditório da ética libertária, mas partindo do ponto de vista de demais libertários não-corporatocratas, desde os mutualistas até os minarquistas; é a monopolização um dos abusos apontados e condenados (Rerum Novarum, §47) pela Igreja Católica Apostólica Romana na encíclica Rerum Novarum, escrita em 1891 pelo Papa Leão XIII, e na encíclica Quadragesimo Anno, escrita em 1931 pelo Papa Pio XI (Quadragesimo Anno, §105 e §107).
Sobre a prática, trata-se da degradação última do capitalismo, que culmina no combate aos meios de produção dos indivíduos livres. O poder de quebra da autoria está agora nas mãos de grandes corporações que, pasmem, agridem a cultura e as artes dia após dia — alguém pode me provar que o financiamento filantrópico para causas de subversão social (hoje tidas como "wokismo") não é agressão à ordem, ao belo e às boas artes?
O futuro em que será requisitada a arte feita por máquinas em detrimento da feita pelos homens é um futuro no qual a produção artística será monopolizada, esse monopólio só será possível pois haverá a fraude em demasia por parte dos usurpadores dos símbolos.
[1] https://www.noticiasaominuto.com/tech/2756201/insulto-a-propria-vida-hayao-miyazaki-do-studio-ghibli-fala-sobre-ia
[2] https://br.ign.com/jojo-s-bizarre-adventure/132412/news/criador-de-jojos-bizarre-adventure-quase-nao-consegue-diferenciar-ia-de-sua-obra-e-revela-futuro-som