Petra Veritatis on Nostr: MEDITAÇÕES PARA O TEMPO COMUM DEPOIS DE PENTECOSTES A VIA UNITIVA 6 DE OUTUBRO O ...
MEDITAÇÕES PARA O TEMPO COMUM DEPOIS DE PENTECOSTES
A VIA UNITIVA
6 DE OUTUBRO
O admirável privilégio do amor
Aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele (Jo 14, 21).
Aquele que me ama, será amado por meu Pai. Isto, à primeira vista, parece absurdo. Porventura nos ama Deus porque nós o amamos? Certamente não; porque se diz na Primeira Epístola de São João: A caridade (de Deus) consiste nisto: em não termos sido nós os que amamos a Deus, mas em ter sido Ele que nos amou (1Jo 4, 10). Logo, deve dizer-se que alguém ama a Cristo porque é amado pelo Pai, e não que ele é amado porque ama. Amamos, pois, o Filho, porque o Pai nos ama. É privilégio do amor verdadeiro atrair o amor daquele a quem se ama. Por isso diz Jeremias: Eu amei-te com amor eterno, por isso, compadecido de ti, te atraí a mim (Jr 31, 3). Mas porque o amor do Pai não existe sem o amor do Filho, já que é uma mesma coisa o amor de ambos: Em verdade, em verdade vos digo: Tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho (Jo 5, 19), por isso acrescenta: E eu o amarei.
Porém se o Pai e o Filho amam todas as coisas desde a eternidade, por que diz amarei, no futuro? É porque o amor, considerado enquanto reside na vontade divina, é eterno; porém considerado enquanto se manifesta na ação, é temporal, e por isso o sentido é o seguinte: e eu o amarei, mostrarei o efeito do amor, pois me manifestarei a ele, porque lhe amarei para isto, para manifestar-me.
É mister saber que o amor de um a outro é, às vezes, relativo, e às vezes absoluto; é relativo quando se quer para a pessoa amada algum bem particular; e absoluto, quando se quer para ela todos os bens.
Deus ama relativamente a todas as coisas criadas, porque quer para toda criatura algum bem, mesmo para os demônios, quer dizer, que vivam, entendam e existam, o qual é um bem. Porém ama sem restrições àqueles para quem quer todo o bem, a saber, que possuam ao mesmo Deus, o qual é possuir a verdade, pois Deus é a verdade. Porém a verdade só se possui quando é conhecida.
Logo, Deus ama verdadeiramente e absolutamente àqueles a quem se manifesta a si mesmo, que é a verdade. E isto é o que diz: me manifestarei a ele, no futuro pela glória, que é o último efeito da bem-aventurança futura. Faz conhecer a quem ama, que Ele é possessão sua, e que pode subir até ela (Jó 36, 33). E no Livro da Sabedoria se lê: Ela antecipa-se a dar-se a conhecer aos que a desejam (Sb 6, 14).
— In Joan., XIV
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