ronaldrobson on Nostr: Que livraço esse “Kafka: os anos decisivos”, de Reiner Stach. Fica evidente o ...
Que livraço esse “Kafka: os anos decisivos”, de Reiner Stach. Fica evidente o quanto a percepção que se tem da vida de Kafka foi prejudicada pela percepção que se tem de sua literatura.
Quem diria que o homem fosse um funcionário excepcional na firma de seguros da qual tanto falava mal em seus diários! E ele nada tinha de antissocial; ao contrário, era até bem vivido, tinha gosto por esportes e ginástica, sabia se comportar em público e encontrar o caminho até os bordéis.
Seu breve e reticente envolvimento com o sionismo é do maior interesse. Os judeus orientais (do leste europeu mais extremo, entenda-se) lhe forneceram bem mais que matéria com a qual meditar acerca da sua identidade. Na verdade, aquela trupe de gente pobre e inculta que recitava canções tradicionais em iídiche, gente pela qual desenvolveria grande simpatia, deu-lhe imagens monstruosas que depois seriam úteis.
“Certos gestos e personagens considerados especialmente kafkianos”, escreve Stach, “nasceram no teatro iídiche e na sala dos fundos do Café Savoy”, do qual escritor e muitos outros judeus eram habitués.
Tinha alguma antipatia por Kafka, na verdade indiferença pelo que me parecia uma figura monovalente e nem sempre criativa em suas obsessões. Sua literatura fica de pé por seus próprios méritos, sem dúvida, mas o seu caso é um desses raros em que o recurso à biografia do autor pode facilmente tornar-se uma extensão do empenho pessoal com os seus livros e atividade crítica necessária.
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