O recente relatório do Banco Central Europeu, As Consequências Distribucionais do Bitcoin, recicla a velha narrativa de que o Bitcoin é um activo especulactivo que causa desigualdade de riqueza sem oferecer benefícios económicos tangíveis. Os autores, Ulrich Bindseil e Jürgen Schaaf, desfilam as críticas de sempre, afirmando que o Bitcoin falhou como sistema de pagamento global e que se transformou numa bolha, enriquecendo os primeiros utilizadores à custa da sociedade. Também lançam uma pitada de alarmismo ambiental e argumentam que o Bitcoin ameaça a democracia.
Como era de esperar, o BCE continua apegado às mesmas concepções erradas que já foram desmentidas inúmeras vezes. O que este relatório não percebe, de forma espectacular, é que o Bitcoin não é apenas mais um activo; é uma tábua de salvação para aqueles desiludidos com os sistemas fiduciários inflacionários e governos corruptos. Ao longo desta análise, vamos desmontar os argumentos do BCE, expondo não só o seu profundo desconhecimento sobre o Bitcoin, mas também a ignorância gritante em relação ao seu potencial de conceder soberania financeira a milhões de pessoas em todo o mundo. O BCE retrata o Bitcoin como uma ferramenta elitista, mas ignora como as suas próprias políticas têm sistematicamente enriquecido alguns poucos à custa da maioria. Vamos então entrar no assunto.
1. Deturpam o Papel do Bitcoin como Sistema de Pagamentos
“O Bitcoin nunca foi usado em grande escala para transacções legais no mundo real.”
Que originalidade. Os autores descartam a utilidade de pagamento do Bitcoin com um gesto, mostrando que não compreendem a Lightning Network, que facilita transacções rápidas, baratas e escaláveis a nível global. Certamente, talvez os europeus ainda não estejam a comprar os seus cafés com Bitcoin, mas isso é irrelevante. O Bitcoin é uma tábua de salvação financeira em locais como El Salvador e em inúmeras outras regiões que sofrem com sistemas fiduciários em colapso.
Esta visão eurocêntrica, como se todo o mundo partilhasse das mesmas condições económicas, reflecte uma total falta de perspectiva. Os autores seleccionam dados a dedo para encaixar na sua narrativa anti-Bitcoin, enquanto convenientemente ignoram os milhões que utilizam o Bitcoin para escapar à hiperinflação e a regimes autoritários. A afirmação de que o Bitcoin não é usado para transacções “legais” é não só enganosa, como revela a sua ignorância sobre as necessidades reais de quem vive fora da sua bolha privilegiada.
2. Deturpam o Bitcoin como activo Especulactivo
“O Bitcoin não gera qualquer fluxo de caixa (como o imobiliário), juros (como as obrigações) ou dividendos (como as ações).”
Parabéns, BCE, acabaram de perder o ponto fulcral do Bitcoin. Esta afirmação mostra uma falta de entendimento fundamental do que torna o Bitcoin único. Ao contrário de imóveis ou obrigações, o Bitcoin é uma forma alternativa de dinheiro—não algum esquema de rendimento passivo.
O valor do Bitcoin não depende de gerar dividendos ou juros, mas advém da sua escassez, descentralização e resistência à censura. Ao reduzir o Bitcoin a modelos de activos tradicionais, o BCE ignora o paradigma económico revolucionário que este oferece: uma escapatória aos sistemas fiduciários inflacionários, particularmente para os milhares de milhões de pessoas presas em sistemas financeiros corruptos.
Ao tentar enquadrar o Bitcoin em modelos convencionais, os autores revelam a sua preguiça intelectual. A utilidade do Bitcoin reside no seu potencial como dinheiro sólido, e não como um veículo de investimento para especuladores atrás de rendimento.
3. Deturpam os Custos Ambientais e Sociais da Mineração
“A mineração de Bitcoin consome muita energia e causa danos ecológicos e sociais.”
Ah sim, o argumento gasto sobre o consumo energético. Enquanto a mineração de Bitcoin realmente requer energia, os autores omitem convenientemente os enormes avanços que a indústria fez em direcção à sustentabilidade. Cada vez mais, os mineradores de Bitcoin recorrem a fontes de energia renovável e, em alguns casos, estão até a ajudar a financiar infraestruturas de energia verde.
A ironia aqui é que o BCE, uma instituição que fomenta políticas que inflam bolhas imobiliárias e de acções, de repente está preocupado com os custos sociais e ambientais. E mais, ignoram como a procura de energia barata por parte do Bitcoin incentiva realmente o desenvolvimento de soluções energéticas sustentáveis. Num mundo onde os sistemas fiduciários alimentam a ganância corporativa e a degradação ambiental, o Bitcoin está posicionado para impulsionar uma verdadeira inovação na energia verde.
4. Visão Deturpada da Redistribuição de Riqueza
“Os efeitos de riqueza do Bitcoin beneficiam os primeiros utilizadores à custa dos que chegam mais tarde e dos que não o possuem.”
Isto é pura comédia. Aparentemente, o BCE acabou de descobrir que os primeiros investidores em qualquer activo beneficiam mais do que os que chegam depois. Não é assim que os mercados funcionam? Os primeiros investidores em acções, imóveis e ouro beneficiam de forma desproporcional—mas, curiosamente, isto só se torna um problema quando se trata de Bitcoin.
O que o BCE realmente teme é que o Bitcoin democratize a riqueza de uma maneira que eles não conseguem controlar. Com o Bitcoin, não precisas de acesso privilegiado para participar. Não precisas de um corretor XPTO ou de permissão dos guardiões financeiros. Ao contrário das próprias políticas do BCE—concebidas para inflacionar a riqueza dos já ricos através de bolhas imobiliárias e do mercado de acções—Bitcoin oferece um campo de jogo nivelado para qualquer pessoa com uma ligação à internet.
5. Sensacionalismo: a Ameaça à Democracia
“O aumento perpétuo do preço do Bitcoin empobrece o resto da sociedade e põe em risco a democracia.”
Aqui, os autores entram no melodrama, avisando que o aumento do preço do Bitcoin põe em risco a democracia. É fascinante como ignoram a verdadeira ameaça à democracia: as suas próprias políticas inflacionárias.
Na realidade, os sistemas fiduciários, através da inflação incessante e do quantitative easing, erodem sistematicamente a riqueza dos mais pobres e da classe média. Os ricos, com as suas carteiras de acções e imóveis, conseguem resistir à tempestade. Mas o trabalhador comum, cujo salário compra cada vez menos a cada ano, é esmagado. Se há algo que ameaça a democracia, é o poder descontrolado do BCE de desvalorizar a moeda que as pessoas usam para viver. Bitcoin, por outro lado, dá às pessoas uma reserva de valor incorruptível e descentralizada, imune aos caprichos dos banqueiros centrais.
6. Percepção “Equivocada” da Escalabilidade do Bitcoin
“As transações em Bitcoin na blockchain são lentas e caras.”
Esta crítica ignora a realidade do progresso tecnológico. As transacções on-chain de Bitcoin nunca foram pensadas para compras diárias—para isso é que serve a Lightning Network. Os autores agarram-se a esta crítica desactualizada, como se o Bitcoin fosse uma entidade estática que não evoluiu na última década.
Soluções de segunda camada como a Lightning Network permitem transacções quase instantâneas e de baixo custo, tornando o Bitcoin escalável de maneiras que o BCE se recusa a reconhecer. Mas porque deixar que os factos estraguem uma boa história de medo?
7. Ignoram o Impacto Económico Global do Bitcoin
“O Bitcoin não tem casos de uso benéficos para a sociedade.”
Esta afirmação é tão limitada que é quase impressionante. A utilidade do Bitcoin não se trata de conveniência para os ocidentais comprarem café; trata-se de sobrevivência para as pessoas em países como a Venezuela, o Líbano ou a Nigéria.
Quando as moedas locais colapsam e as pessoas não podem confiar nos seus bancos, o Bitcoin oferece uma saída. Ao descartar o impacto real de Bitcoin sobre os milhares de milhões (mais de metade da população mundial) de pessoas que vivem sob regimes opressivos e em hiperinflação, o BCE revela um embaraçoso viés ocidental e falta de empatia. O Bitcoin é mais do que apenas um activo alternativo, é uma tábua de salvação para pessoas em todo o mundo que sofrem com sistemas fiduciários falhados.
Conclusão
O relatório do BCE recicla críticas desactualizadas e já desmentidas, não conseguindo ver o panorama geral. Aplica modelos financeiros antigos a uma nova forma de dinheiro, ignorando o potencial de Bitcoin para democratizar o acesso a um sistema financeiro justo, descentralizado e incorruptível. Enquanto os bancos centrais, como o BCE, continuam a desvalorizar moedas e a inflacionar bolhas de activos (e parece que vem ai mais…), Bitcoin oferece às pessoas um caminho para a soberania financeira.
O verdadeiro valor de Bitcoin não se encontra nas críticas superficiais e eurocêntricas do BCE. O seu valor reside na capacidade de fornecer liberdade financeira a indivíduos em todo o mundo, libertos da má gestão de governantes e banqueiros centrais. Se há algo que ameaça a democracia, é o historial do BCE de enriquecer alguns poucos à custa de muitos. Bitcoin, por outro lado, oferece um futuro mais justo—um onde são os indivíduos, e não as instituições, que têm o poder.
Alguma literatura:
- Universidade de Cornell - Bitcoin pode impulsionar o desenvolvimento de energias renovaveis
- Aldeias em Africa com electricidade atraves de Bitcoin
- Relatorio de 2023 sobre a Lightning Network da River
- Adopcao de Bitcoin por Pais
_Photo by Taras Chernus on Unsplash_
#Bitcoin #BCE